OTIMISMO MARCA INÍCIO DO ANO NO JAPÃO

Por: Edson Xavier

(Institucional, para o Jornal de Ofertas – Japão)

Economistas renomados concordam que as previsões de crescimento do Brasil para este ano de 2011 são bastante promissoras em conparação com o resto do mundo, onde se fala em crescimento nulo nas melhores das previsões, pois economias como a do Japão, América e Europa ainda devem passar por crise. Pode ser que sim, que o crescimento econômico em território japonês seja abaixo do que se espera, mas nem por isso a comunidade brasileira por estas ilhas esta menos otimista neste início de ano.

Se existe algo que se renova a cada 31 de dezembro e se prolonga por várias semanas, é a esperança de que o novo ano que acaba de começar será melhor que o que se findou. Embora nem sempre tenha bases concretas como fundamento, a otimista perspectiva por si só já é um impulso para que cada um à sua maneira faça algo de melhor – e assim contribua para que realmente o melhor aconteça.

Angélica e Isaías, da auto escola Aguiar Driving School

“O ano que passou não foi de todo ruim, tivemos uma boa recuperação em vários setores, inclusive com a volta das ofertas de empregos, e agora neste janeiro, só nos resta torcer, e trabalhar, para que 2011 seja um ano melhor que os 12 meses passados,” afirma Angélica Onishi, da empresa Aguiar Driving School – com unidades em Aichi (Anjo e Nagoya) e em Mie (Suzuka).

Segundo ela, a realidade brasileira no Japão teve nos dois últimos anos seu momento crucial – quando muitos dekasseguis regressaram ao Brasil, desanimados com o desemprego e poucas perspectivas de economias no Japão. Mas a partir de agora, na opinião de Angélica, a tendência é de uma situação de normalidade, em que a maioria brasileira teve recolocação em trabalho e a situação geral caminha para um estado de normalidade.

Ivan Morishigue, encarregado na empreiteira Waysu, de Komaki, concorda com o pensamento otimista que predomina neste início de ano. “A situação está melhor que um ano atrás, e a torcida é para que se registre uma curva ascendente na oferta de empregos – e conseqüentemente, na recuperação da economia”, salienta.

Ivan Morishigue, da empreiteira Waysu

Ele revela que no início do ano passado a empreiteira Waysu teve uma drástica redução no número de funcionários em uma das fábrica onde aloca mão de obra em Komaki. De 170 funcionários, houve o corte de 150. Para se ter uma idéia da recuperação, a mesma fábrica fechou o ano passado com 190 funcionários contratados pela Waysu. “E começamos este ano precisando de mão-de-obra”, revela Morishigue. A empreiteira tem cerca de 20 vagas em aberto para este mês de janeiro, e previsão de outras 20 vagas para fevereiro.

É certo que, apesar das ofertas de emprego que surgem em vários setores e em várias regiões, o salário pago pela hora trabalhada teve considerável redução – quem ganhava cerca de 1.200 ienes a hora, hoje trabalha recebendo pouco mais de Y 1.000. Mas o consenso é que, antes ter salário reduzido que amargar o desemprego.

Um termômetro que revela o otimismo com o Ano Novo foi o movimento registrado no comércio brasileiro em geral já em dezembro passado. Lojas de produtos brasileiros, açougues, butiques, setores de prestação de serviços e restaurantes em geral tiveram um movimento atípico com grande volume de vendas – que fez lembrar os bons tempos dos anos que antecederam a crise de 2008. E mesmo neste início de ano, durante o feriado, milhares de brasileiros por todo o Japão enfrentaram estradas rumo a uma infinidade de destinos. O turismo interno é reflexo de que a economia está oxigenada. Com a garantia de trabalho existe dinheiro no bolso (em mãos) e isso se reflete em movimento em todos os setores.

O ano de 2011 que se inicia é de expectativa também para quem decidiu dar os primeiros passos em negócio próprio, como Cássio Shirashigue. Há anos ele trabalha em projeto de colocar no mercado japonês uma idéia original que atende criadores de pássaros. Em meados do ano passado ele viabilizou a idéia e neste mês de janeiro passa a fabricas capas para gaiolas de aves, e vai atender pet-shops de todo o Japão.

“Acho que a economia no Japão ainda está complicada e com certeza este não será um ano fácil, mas estou otimista e decidido a trabalhar bastante para que seja um bom ano em todos os aspectos,” afirma. Cássio Shirashigue avalia que o empresariado brasileiro deve diversificar o leque de atuação, como forma de driblar a crise, e sobretudo, buscar meios de explorar o mercado japonês – que é quantitativamente superior ao mercado brasileiro, seja em número de consumidores quanto em poder de compra.

O diretor da EBRAS – Escola Brasileira, de Hamamatsu, Toshio Naruse, entende que se for feita uma análise da situação econômica mundial não há muitas razões para otimismo neste início de ano – porque o mercado global ainda oscila entre altos e baixos, e o Japão faz parte do bloco de países com muitos problemas a resolver. Na opinião de Naruse, o futuro dos trabalhadores brasileiros neste país está condicionado a uma série de fatores – entre eles, as exportações da indústria automolística e de eletrônicos, a produtividade e competitividade dos produtos japoneses, e claro, o consumo do mercado exterior.

“Mas apesar de todos os pesares, temos sempre que manter a esperança e acreditar em dias melhores,” ressalta. Segundo o diretor, a situação nas escolas brasileiras neste início de ano é ainda de apreensão com o futuro. As unidades de ensino sofreram evasão de alunos com o regresso dos pais ao Brasil, e tiveram que lançar mão de planos de emergência para contornar a situação. “Esperamos agora que haja uma normalidade no fluxo de brasileiros que voltam ao Brasil, e que essa permanência no Japão com garantia de emprego e melhores salários nos permita voltar à normalidade de anos atrás”, torce o diretor da EBRAS.

Francisco Aoki, da Suzan Comercial

Suzan ajuda a recuperar mudanças

Quando vai bem a situação de empresas que atuam no setor de mudanças de brasileiros que regressam do Japão ao Brasil, pode significar que outros setores do comércio local vão passar apuros. Afinal, a debandada de brasileiros do Japão pode ter reflexos drásticos a médio prazo. Mas o “boom” das mudanças já passou dois anos atrás, segundo revela o empresário Francisco Aoki, da empresa Suzan Comercial. Segundo ele, o ano passado foi razoável para o setor, e a perspectiva para este 2011 é de um otimismo moderado.

Francisco Aoki salienta que o empresariado japonês está tratando os negócios com cautela, e aconselha os empreendedores brasileiros a fazerem o mesmo. Afinal, qualquer reação na economia local depende de outros países que ainda tentam se levantar – como o  mercado europeu.

Empresas que se descuidam tendem a amargar falência ou o encerramento de suas atividades em prejuízo a muitos clientes, como ocorreu no final do ano passado com a Tomodatys, empresa de mudanças que atuava no mesmo segmento que a Suzan e que fechou suas portas deixando mudanças sem despachar e sem dar satisfação aos que pagaram pelos serviços que não honrou.

Francisco Aoki revela que a Suzan Comercial é pioneira no Japão no sistema de remessas de mudanças ao Brasil – criado há 18 anos, e por isso a Suzan têm sido procurada por clientes da então Tomodatys que tentam reaver suas mudanças – que estão ainda abandonadas em depósitos no Japão. “É uma pena ver que a mudança de muitas pessoas iria para o lixo porque a transportadora não conseguiu cumprir com o que prometeu. Por isso, estamos interferindo e tentando resolver cada caso em particular, para que seja possível a estas pessoas que já estão no Brasil reaverem seus pertences deixados no Japão,” revela Aoki.